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domingo, 23 de janeiro de 2011

O que tarda pode falhar




Muitas mulheres tendem a subestimar os riscos, mas 
a maternidade depois dos 35 anos ainda é um desafio



Valéria França


Lailson dos Santos
A partir da esq.: Ana Cecilia, mãe de Ana Beatriz e Gabriel; Vivian, de Joana; Marcia, com a filha Maria, e Andréa com Maria Eduarda: maternidade perto dos 40
Ao contar ao médico seu desejo de ter um filho, a mulher com mais de 35 anos costuma receber uma ducha de água fria. "É difícil engravidar nessa idade", resume Nilson Roberto de Melo, coordenador do serviço de planejamento familiar da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor científico da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. O estoque de óvulos de uma mulher nessa faixa etária é um décimo menor que o de uma garota de 20 anos. A chance de gravidez natural é de uma em vinte a cada mês. Seu coração pode não estar suficientemente forte para agüentar o trabalho extra exigido na gestação. O corpo dificilmente recuperará as formas depois da esticada radical. Mesmo com os espetaculares avanços da ciência na área de reprodução assistida, a frustração é um resultado bem provável.
Ainda assim, cada vez mais quarentonas se propõem a esse desafio. E algumas saem da prova vitoriosas, com um bebê nos braços – ou com dois, três de uma só vez (veja quadro). O IBGE revela que o número de mães com mais de 40 anos no Brasil cresceu 27% entre 1991 e 2000. Uma das principais razões é a prioridade na carreira. "Muitas pacientes chegam a minha clínica frustradas porque não imaginavam que teriam tanta dificuldade para engravidar", diz Franco Junior, do Centro de Reprodução Humana Professor Franco Junior – Sinhá Junqueira, de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Aos 40 anos, a natureza joga contra. Sem ela, resta a ajuda da ciência. Uma das técnicas de reprodução assistida mais simples, utilizada quando a mulher não ovula regularmente, consiste em administrar hormônios para superestimular os ovários. Normalmente, a mulher produz um óvulo por ciclo menstrual. Com o medicamento, pode liberar até cinco. O método funciona em 10% dos casos indicados. Situações mais complicadas exigem a inseminação artificial. Os espermatozóides do marido ou de um doador são recolhidos, assim como os óvulos, e a fecundação é feita "artificialmente", fora do corpo. A chance de sucesso é de 30%, dependendo da paciente. Após, no máximo, três tentativas, a probabilidade de gravidez para uma mulher de 35 anos pode aumentar até 50%. Além de difícil, é arriscado. "Doenças crônicas, como diabetes, obesidade e hipertensão, podem provocar a interrupção da gestação", diz o ginecologista Thomas Gollop, especialista em medicina fetal. Outra preocupação é o aumento do risco de anomalias genéticas. O risco de uma mulher de 35 anos ter, por exemplo, um filho com síndrome de Down é de um em 360, quatro vezes mais do que uma grávida de 25. Estudo da Universidade Estadual de Ohio, em Columbus, nos Estados Unidos, mostrou que mulheres com mais de 50 anos, mães depois dos 35, costumam ter taxas mais elevadas de infarto, risco de hipertensão e diabetes. O coração sofre com o encargo de ter de bombear cerca de 1 litro de sangue extra para o bebê. "Depois dos 30 e poucos anos, a gravidez é um desafio à natureza", afirma o médico Wladimir Taborda, chefe da maternidade do Hospital Albert Einstein. Mulheres maduras, profissionais responsáveis, podem ignorar o relógio de ponto no escritório por um tempo, mas o relógio biológico, esse não pára.


A multiplicação dos gêmeos
É de apenas 1% a chance de um casal gerar naturalmente dois ou mais filhos de uma só vez. Na população em geral, as estatísticas mostram que a média é de um gêmeo para cada grupo de oitenta crianças. Na maternidade do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no entanto, nascem seis vezes mais gêmeos do que a natureza planejou. "Isso se deve ao aumento dos partos de mulheres com mais de 35 anos que, com dificuldade para engravidar, lançam mão de técnicas de reprodução assistida", diz Wladimir Taborda, coordenador da maternidade do Einstein. A probabilidade de gestações múltiplas aumenta com o método de fertilização. Numa gravidez natural, em geral apenas um óvulo é fecundado. Na artificial, feita em laboratório, tenta-se formar o maior número possível de embriões, produzidos de óvulos coletados da mãe e espermatozóides do pai. Como a chance de o embrião colocado na barriga se fixar no útero e prosperar é pequena, colocam-se mais de um. Eleva-se, assim, a probabilidade de gravidez, mas também, é claro, de haver uma gestação múltipla. Na população em geral, o número de brasileiras com 40 anos ou mais que utilizaram as técnicas artificiais de concepção dobrou nos últimos dez anos. Isso se reflete nas salas dos consultórios especializados. "Hoje, as clínicas fazem cinco vezes mais tentativas de fertilização do que na década passada", diz Dirceu Mendes Pereira, secretário da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. "Era de esperar que o número de gêmeos aumentasse nas maternidades particulares."

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